Formação Teológica


ID: 2663

1946-1996 - 50 Anos de Faculdade de Teologia

01/12/1995

1946 - 1996

50 Anos de Faculdade de Teologia

Nelson Kilpp

Em 26 de março de 1996 a Faculdade de Teologia comemora 50 anos de existência. É uma ocasião para toda a Igreja mostrar sua gratidão a Deus e para refletir sobre os inícios da sua instituição de formação de pastores e o caminho percorrido por ela nestas cinco décadas.

Os primórdios

Os inícios não se deram da noite para o dia. Quando em 26 de março de 1946, o Pastor Hermann Dohms, presidente do Sínodo Riograndense, instalou oficialmente a Escola de Teologia já havia uma história de 25 anos de formação na IECLB. Já em 1921, o Pastor Dohms abria em sua própria casa pastoral, em Cachoeira do Sul, um curso preparatório para a formação teológica, o Instituto Pré-Teológico, transferido em 1927 para São Leopoldo. Durante a Segunda Guerra Mundial, na impossibilidade de enviar estudantes de nossas comunidades para a Alemanha, onde estudariam Teologia, funcionaram a partir de 1940, cursos provisórios e especiais de Teologia, ministrados no Instituto Pré-Teológico (cujo prédio, construído em 1931, abriga atualmente o Centro Diretivo da Escola Superior de Teologia). A partir de 1942, os alunos destes cursos foram requisitados para atuar como pastores substitutos em comunidades sem atendimento pastoral regular. Estes pastores substitutos formaram, em março de 1946, a primeira turma de estudantes - em número de treze - da então Escola de Teologia.

As condições materiais eram bem modestas. Não havia, no início, um prédio ou uma sala própria. Mas em 19- de agosto de 1946 pôde ser inaugurado um chalé de madeira (atualmente sede do Departamento de Catequese) para servir de sala de aula e de biblioteca. Os professores eram todos de tempo parcial. Eram cedidos por seus campos de trabalho para darem adicionalmente algumas aulas no curso de Teologia. A biblioteca tinha poucos livros, quase todos desatualizados, já que eram provenientes principalmente de doações. Ainda não havia moradias especiais para estudantes. Os recursos financeiros eram escassos. Havia, no entanto, enorme disposição e interesse de estudantes em aprofundar sua vivência de fé e de prática comunitária. Além disso, a dedicação abnegada de professores, pastores e líderes de comunidades foi fundamental nos primórdios da existência da Faculdade de Teologia. Por fim, havia a firme determinação por parte das comunidades de ser uma Igreja autóctone através da formação, em seu próprio chão, de pastores provenientes de seu próprio meio.

Que podemos aprender destes inícios?

Formação teológica

Dentre os muitos aspectos importantes desta história muito rica destaco quatro ou cinco. Em primeiro lugar, as comunidades e suas lideranças entenderam que era importante dar a seus pastores uma formação teológica de qualidade e resolveram investir nela. Não estavam satisfeitas com pastores que apenas soubessem falar e repetir o rito litúrgico usando as palavras certas, mas que também tivessem conhecimentos nas diversas áreas da teologia e condições de refletir de forma autônoma a fé evangélica no contexto brasileiro. Investiu-se desde o início na qualidade da formação teológica. Nos dias atuais, a Escola Superior de Teologia busca dar continuidade a uma formação de qualidade às pessoas que se decidiram servir à sua Igreja, porque entende que as comunidades têm o direito de ter orientação teológica nos múltiplos desafios da atualidade. No entanto, como nos inícios, também hoje os recursos - mesmo que relativamente maiores - são limitados; muitas vezes a falta de condições financeiras tem que ser compensada por criatividade e desprendimento.

Com isto já abordamos o segundo aspecto: Um empreendimento como a Faculdade de Teologia é bem mais do que uma empresa. Além de muito bem administrada, uma instituição eclesiástica precisa constantemente da dedicação e até renúncia dos que nela atuam e da compreensão e do apoio das comunidades e de suas lideranças. Sem essa ajuda e este serviço abnegado um curso de formação de pastores não funcionaria nem subsistiria. É motivo de gratidão a Deus o fato de que, nestes cinquenta anos, nunca faltou quem desse seu apoio e sua ajuda - muitas vezes considerável - à Faculdade de Teologia. Graças a orações, coletas, contribuições, serviços, dedicação, sugestões de muitas pessoas ela pôde cumprir sua tarefa até hoje. Lembro apenas a Legião Evangélica, que arrecadou fundos e coordenou a construção dos dois prédios da Faculdade de Teologia no Morro do Espelho.

Vocações

Neste contexto merecem destaque as vocações. Sem a vocação de pessoas para o serviço do Reino de Deus não haveria quem pastoreasse a Igreja. As vocações estão, portanto, no início da formação teológica. Até hoje as comunidades sempre tiveram candidatos vocacionais e dispostos a cursar Teologia. Nos últimos anos houve até mais quantidade de candidatos do que vagas. Mas há o perigo de se considerar a vocação como sendo algo natural. Não é assim! Vocações querem ser despertadas; muitas vezes os talentos estão enterrados e precisam da ajuda das comunidades para serem liberados. Pessoas também precisam ser motivadas ao serviço a Deus e à Igreja. As comunidades não devem nunca deixar de motivar vocações em seu meio, pois delas depende o seu futuro.

Uma das características da primeira turma de estudantes de Teologia foi a experiência de prática pastoral que tiveram antes de ingressar no curso de Teologia oficial. O estudo teórico estava permeado por questões e dúvidas que nasceram da prática. As comunidades davam os parâmetros da formação teológica. Nada mais justo! Para poder servir de modo eficaz nas paróquias e comunidades é necessário conhecer os problemas e as necessidades das mesmas. Sem dúvida, faz parte de uma boa formação teológica uma reflexão acadêmica que constantemente está em diálogo com o contexto em que vive. Por isto, as comunidades devem contribuir também neste sentido para a formação de seus pastores e suas pastoras. Durante estes 50 anos de existência da Faculdade de Teologia houve épocas em que as comunidades, de fato, estiveram um tanto distantes da formação de seus obreiros. Nesta última década, no entanto, foram abertos ou reabertos diversos canais capazes de trazer as questões teológicas das comunidades para dentro das salas de aula da Faculdade de Teologia. Em especial no pré-estágio, estágio e Núcleo Avançado as comunidades participam de maneira direta na formação de seus futuros pastores e pastoras. As diversas expressões de fé de vários modelos de comunidade de nossa Igreja no Brasil tomam-se, assim, pano de fundo e estímulo para a formação de pastores e pastoras.

Por fim, vimos que já há 50 anos houve a preocupação de formar uma Igreja autóctone, ou seja, uma Igreja que não copia formas de atuação de outras Igrejas, mas que procura caminhar teologicamente com seus próprios pés. As pastoras e os pastores formados até hoje em tenras brasileiras pela Faculdade de Teologia - 679 até dezembro de 1994; 288 na última década - sem dúvida foram a maior contribuição para formar uma Igreja com características próprias. Outro passo significativo em direção aos objetivos dos idealizadores da Escola de Teologia começou a ser dado com a formação de mestres e doutores através do Instituto Ecumênico de Pós-Graduação, a partir de 1983.

Futuro

A dedicação e a experiência de meio século de formação teológica na IECLB resultaram numa instituição teológica de respeito em toda a ecumene. A Faculdade de Teologia é conhecida e respeitada por seu nível de ensino acadêmico também pelas Igrejas do Primeiro Mundo. Esta posição nos leva a olhar para frente: Para onde queremos andar no futuro? O rumo está dado pelo espírito dos fundadores da Faculdade de Teologia. 1) Apesar das múltiplas tentações do presente, não se deve renunciar à qualidade acadêmica da formação teológica na IECLB. 2) A formação deve cada vez mais ser estimulada e praticada nas próprias comunidades. Deverão ser fortalecidos os canais de comunicação entre a reflexão teológica formal e a reflexão do povo da Igreja. 3) Além disso, a formação teológica não deve ser um fim em si mesma. Ela deve ser um auxílio efetivo na missão da Igreja de difundir o Evangelho de Jesus Cristo e de colocar sinais do Reino de Deus em nosso mundo, para que este mundo possa ser transformado. 4) Por fim, a posição privilegiada da IECLB em matéria de formação teológica deveria levar todos nós a olharmos para além dos próprios muros. Temos condições de ajudar, com aquilo que somos e temos, muitas Igrejas irmãs, em especial, da América Latina, na importante tarefa de formar obreiros e obreiras na seara de Deus?

O autor é Reitor da Escola Superior de Teologia e reside em São Leopoldo, RS


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